domingo, 22 de abril de 2012

O útil medo da coragem humana

 "Meu filho, és um homem!" ...
 Sim, meu pai, teu filho é um homem, pois não se acovarda da vida. A distância dos teus afagos, dos teus conselhos amigos torna-os presente ante a luta que o cotidiano oferece. E sigo em frente, de fronte erguida. Comigo levo os teus ensinamentos; comigo levo a arma da paz. E nesta marcha contínua, enveredando trincheiras, ouço o hino sereno da verdadeira amizade; o canto afável de tuas vozes nas repetidas notas dos teus anseios. Ouço-o na partitura da vida. Leio os teus versos e encontro a poesia bela do amor puro. Nada há de semitonar tão belo canto, pois ele é cheio de graças inefáveis. É a herança de corações bondosos e patrimônio inalienável, solidificando na profundeza de minh' alma.
 Lembro-me ser um militante, um entusiasta pela causa que abraça. Envergando a farda do meu ofícil, garbosamente marcho ao campo de luta.
 Era um defrontar de irmãos contra irmãos, em busca de um triunfo cuja conquista estava caracterizada no derramamento frio de um sangue fremente de desejos fúteis e ambições indomáveis.
 A compreensão, a paz, escondiam-se, por certo, na lama pútrida do ódio, no odre vil da hediondez humana, obscurecendo mentes e lançando-as às ruínas de suas próprias vaidades.
 Entre tantos, poucos os reconhecidos. Entre reconhecidos, tantas as qualidades!
 Qualidades sentidas de temor, presas no calabouço do equívoco tático das desventuras.
 Desventuras sofridas, adquiridas, sem os livros do êxito edificante.
 Antes tantas sanhas, quis eu ser destemido. E, assim, o fui, pois o erro comum do medo de insensatez humana, foi que verteu a coragem para sobrepor o humano e chegar a reconhecer o divino. Nesta paisagem do reconhecimento verdadeiro, silente minh' alma adormeceu nos braços da tranquilidade. E ouvi o canto da paz. Paz sentida pelos homens de fé e, muitas vezes, fustigada pela incompreensão do próprio homem.
 O canto é real. Para ouví-lo basta harmonizar os sentimentos de igualdade e de compreensão.
 Solapem vaidades, ambições desenfreadas, ódio, ira, inveja... solapem, enfim, tudo o que desarmoniza a vida. E nascerá amor, flores, perfumes, paz.
 É útil ser útil. Assim sendo, a agradável sensação da comunicabilidade, sem interesses propriamente individualistas evidencia-se na força propulsora da integridade humana, sobrepondo o medo das fantasmagóricas reações de âmbito preconceitual. Daí, o surgimento sólido e bem definido da coragem humana, enfrentando os descados sociais e tornando-os úteis a uma boa vivência material e espiritual.

                                                                                                       Paulo Holanda

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